COMO A EDUCAÇÃO DE PORTUGAL AVANÇOU RAPIDAMENTE E COM POUCOS RECURSOS
Texto publicado em 31 de outubro
de 2018 em:
Crato, Nuno (2018)
– “Como a educação de Portugal avançou rapidamente e com pouco recursos”. Entrevista
sobre a reforma educativa de Portugal (2011-2015). Rio de Janeiro: Instituto
Alfa e Beto.
Em entrevista, Nuno Crato, ex-ministro da Educação de
Portugal, conta como colocou em curso mudanças que impactaram positivamente a
aprendizagem dos alunos
A leitura total do texto no "link" acima parece-me fundamental para entender como é possível melhorar a educação,
mesmo quando há poucos recursos disponíveis.
Abaixo transcrevo
apenas a parte que me parece bastante semelhante à realidade brasileira (os
negritos foram introduzidos por mim)
“Antes da entrevista, uma breve contextualização da realidade portuguesa
à época.”
“Em 2011, Portugal
encontrava-se diante de uma gigantesca crise fiscal. Como membro da Comunidade
Europeia o país não emite moeda. Portanto, a única saída era reduzir gastos.
Toda a história contada a seguir se deu num contexto em que o salário dos
professores, que já estava congelado há algum tempo, foi reduzido. Para reduzir
custos, foi preciso aumentar ligeiramente o número de alunos por turma. E os
recursos sempre foram muito escassos ao longo de todos esses anos.”
“No início do século, os
resultados de Portugal estavam bem aquém da média dos demais países membros da
OCDE. Houve fases de aumento e queda, e em 2009 já se encontrava perto da média
e começando a declinar ligeiramente.”
“A
situação das escolas era bastante precária devido à escassez de recursos. O NÍVEL DE REPROVAÇÃO E ABANDONO TAMBÉM ERA
BASTANTE ELEVADO. Clique
aqui para observar os índices de reprovação e abandono. Já o nível de formação básica dos
professores era bastante razoável – grande parte dos professores das séries
iniciais provinha das antigas escolas de magistério, um curso de ensino médio sem grandes ambições acadêmicas, mas que
formava professores preparados para ensinar os alunos das séries iniciais. Os professores das séries finais provinham de cursos superiores em
diferentes áreas do conhecimento, posteriormente complementados com uma
formação pedagógica. Os professores também eram em sua maioria muito
experientes. A formação pedagógica,
sobretudo a partir dos anos 80, foi se tornando progressivamente mais fraca,
concentrando-se menos em preparar os professores sobre como ensinar as
disciplinas e mais em conteúdos gerais. Ou seja,
embora preparados nas disciplinas, os professores não vinham sendo bem
preparados para ensinar.”
“No entanto, por uma série de
razões, esses professores não promoviam a aprendizagem dos alunos de forma
adequada. Mesmo contando com professores bem preparados, o sistema não tinha um
bom rendimento. Nem mesmo as novas metas curriculares, aprovadas em 2010,
tinham causado maior impacto no ensino e no desempenho dos alunos.”
“A seguir, Nuno Crato fala sobre essa realidade e as
políticas colocadas em prática durante a sua bem-sucedida gestão” abrangendo os
seguintes temas:
- Sistema
Escolar;
- Essência da Reforma;
- Avaliação;
- Processo de Implementação;
- Importância dos Resultados;
- Papel
das EVIDÊNCIAS na Formulação de
Políticas Públicas;
- Professores;
- Desafios;
- Lições
para Outros Países.
No item relativo
aos Professores Nuno Castro finaliza:
“Para implementar a reforma,
não foi necessário nenhum esforço especial de capacitação. Certamente esse tipo
de abordagem funciona em países como o nosso, que dispõem de um corpo docente
com um nível minimamente adequado de formação básica. Não é um modelo que se pode exportar para países onde isso não ocorre.
Mas também apenas a formação básica não garante um bom desempenho dos alunos.”
No item relativo Desafios, Nuno Castro finaliza com os seguintes comentários:
“Um regime democrático se
caracteriza pela possibilidade da alternância de poder e, em Portugal, o nosso
governo foi substituído por outro. O governo que nos sucedeu logo se pôs a
desativar alguns dos pilares da reforma descrita acima – em grande parte, com o intuito de agradar os sindicatos. O primeiro
passo foi revogar a avaliação do 4o e 6o anos.
O passo seguinte consistiu em reduzir o currículo, escolhendo apenas o que
consideravam como “essencial” e deixando mais tempo livre para as escolas
decidirem o que fazer. Assim, é possível que os avanços alcançados não sejam
sustentáveis. Numa democracia, não existe maneira de cristalizar avanços – isso
seria incompatível com a liberdade.”
Por outro lado, a formação da
nova geração de professores das séries iniciais, que passou a ser feita em
nível superior, e a fragilidade dos mecanismos de preparação de professores nas
práticas de ensino poderão contribuir para reduzir o ímpeto dos avanços
conseguidos. Nos próximos anos, começará
a chegar a idade de aposentadoria da geração mais antiga de professores, e é
possível que as novas gerações não tenham recebido o preparo adequado para os
novos desafios. Esse é um grande problema para o futuro. O problema
chave!
Assuntos mencionados na entrevista:
EVOLUÇÃO DA TAXA DE RETENÇÃO 4º, 6º E 9º ANOS, CONTINENTE
https://drive.google.com/file/d/1_D9seBhnQgi3vx5aQO6S7rYfifr-_4nH/view
https://drive.google.com/file/d/1vyVkuolcY5rI8hXSCJgf3vxCa7z49o6S/view
PORTUGAL NO PISA
http://www.alfaebeto.org.br/wp-content/uploads/2018/10/grafico.png
Nota: Nuno Castro é autor de vários livros, tendo sido premiado com o European Science Award 2007
em Divulgação Científica
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