sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Evidências Científicas a Respeito da Leitura e da Alfabetização

 

Comentário para Amazon sobre os Neurônios da Leitura de autoria de Stanislas Dehaene

Evidências Científicas a Respeito da Leitura e da Alfabetização

O livro Os Neurônios da Leitura (como a ciência explica nossa capacidade de ler) poderia também ter o título Evidências Científicas a Respeito da Leitura e da Alfabetização. Este livro, quando do seu lançamento, foi considerado, pelo Washington Post, como o melhor livro científico do ano

Stanislas Dehaene, professor do Collège de France e membro da Academia Francesa de Ciências, é especialista em neurociência cognitiva, tendo realizado importantes trabalhos em matemática e linguagem.  A partir de 2018 foi nomeado pelo Ministro da Educação Nacional da França como presidente do Conselho Científico para a Educação Nacional (CSEN). Tem um site na Internet (em francês) em https://moncerveaualecole.com/

 Embora se trate de um assunto árido, Stanislas Dehaene consegue explicar de forma didática e atraente como, nos últimos trinta anos, os “progressos das neurociências e da psicologia cognitiva (explicada logo no 1º capítulo  - COMO LEMOS?) conduziram a evidências a respeito do ato de ler.”

Logo na introdução menciona aquilo que chama de O ENIGMA DO PRIMATA QUE SABE LER:  “a escrita nasceu há aproximadamente 5.400 anos entre os babilônios e o alfabeto propriamente dito não tem mais de 3.800 anos.” Nesse pequeno período o nosso genoma não se alterou e, portanto, “nada, em nossa evolução, nos preparou para receber as informações da escrita pela via do olhar”.

Ao falar da UNIDADE BIOLÓGICA E A DIVERSIDADE DAS CULTURAS afirma ainda, que “são raros os pesquisadores em ciências sociais que consideram pertinentes ao seu domínio de estudo a biologia do cérebro e a teoria da evolução” e que isso implica a adesão da maioria deles a um modelo implícito do cérebro que Dehaene denomina de “plasticidade generalizada e relativismo cultural” e que pretende mostrar “a que ponto os dados recentes da tecnologia de imagens cerebrais e da neuropsicologia recusam esse modelo simplista das relações entre o cérebro e a cultura”.

Embora o “cérebro seja capaz de aprendizagem, sem o que não poderia incorporar as regras própria da escrita latina, japonesa ou árabe, no entanto, esta aprendizagem é limitada e para aprender novas competências, reciclamos nossos antigos circuitos cerebrais de primatas – na medida em que tolerem um mínimo de mudança”.

A forma de Dehaene explicar as evidências é bastante simples.

Tomando como exemplo o primeiro capítulo: COMO LEMOS? Explica como funciona a leitura mostrando que começa no olho

1.º exemplo

Ele inicia mostrando que o olho é um captor imperfeito e que somente a região central da retina, denominada fóvea, que ocupa 1,5º do campo visual é realmente útil para a leitura e se essa área sofrer uma lesão a leitura se torna impossível e logo em seguida faz menção a uma obra que mostra evidências relativas a essa afirmação ( RAYNER, K. & BERTERA, J. H. (1979). Reading withouta fovea. Science, 206(4417), pp. 468-469.)

2.º exemplo

“A estreiteza da fóvea é a razão principal pela qual movemos incessan­temente os olhos no curso da leitura. Ao orientar o olhar, nós "escaneamos" o texto a ser lido...... mas não percorremos o texto de forma contínua pois nossos olhos se deslocam em pequenos movimentos discretos, por “sacadas”” e imediatamente faz uma referência a uma obra que mostra evidências a essa afirmação (RAYNER, K. (1998). Eye movements in reading and information processing: 20 years of research. Psychol Buli, 124(3), pp. 372-422.)

No capítulo 2 mostra quais são as regiões do cérebro que contribuem para a leitura e como são organizadas.

No capítulo 3, que tem o mesmo título do livro, é que é, na minha opinião, o capítulo mais técnico do livro, explica como as palavras escritas são representadas a nível neuronal.

O capítulo 4 que tem o título de A Invenção da Leitura mostra, através da  história, a evolução da escrita, sempre à busca de uma notação escrita que se a dapte melhor à nossa organização cerebral. Segundo Dehaene, “não foi nosso cérebro que evoluiu para a escrita, mas, sim, a escrita que se adaptou a nosso cérebro”.

O capítulo 5 – Aprender a Ler – “procura mostrar como a aprendizagem da leitura modifica o cérebro da criança e aprender a ler consiste em colocar em conexão dois sistemas cerebrais presentes na criança bem pequena: o sistema visual de reconhecimento das formas e as áreas da linguagem, e isto ocorre em três fases:”

·         “A etapa pictórica, breve período quando a criança “fotografa” algumas palavras;

·         A etapa fonológica, quando ela aprende a decodificar os grafemas em classes de sons;

·         A etapa ortográfica, quando ela automatiza o reconhecimento das palavras.”

O capítulo 6 – O cérebro Disléxico – trata das crianças que, a despeito de terem uma inteligência e uma educação normal, apresentam grandes dificuldades na leitura. 

O capítulo 7 trata da Leitura e Simetria que em parte tem relação com o capítulo 6

Há ainda o capítulo 8 cujo título é “Em direção a uma cultura dos neurônios”. Dehaene abre esse capítulo fazendo uma afirmação e uma pergunta: “A leitura abre uma janela para as interações entre a cultura e o cérebro. O modelo de reciclagem neuronal pode ser estendido a invenções culturais outras que a leitura?”

Há um outro livro que faz uma referência direta à obra de Dehaene, aplicada à realidade brasileira.  Trata-se do livro A FALÁCIA SOCIOCONSTRUTIVISTA,  de autoria da professora Kátia Simone Benedetti, que mostra a situação do ensino no Brasil e  explica por que os alunos brasileiros deixaram de aprender a ler e escrever, tomando essencialmente por base as obras de Stanislas Dehaene e do psicólogo brasileiro Fernando César Capovilla, e mostrando as “principais ideias e pressupostos pedagógicos que fundamentaram as diretrizes educacionais no país a partir da década de 80, no que se refere à língua portuguesa, elucidando as falácias  dos socioconstrutivistas e seus efeitos nefastos sobre a qualidade da nossa educação, principalmente porque tais pressupostos têm sido adotados pelo MEC e, por conseguinte pela maioria maciça das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, há três décadas e, continuarão a ser adotados com a “nova” BNCC (Base Nacional Comum Curricular).”

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