25 ANOS PARA QUE UM SONHO SE REALIZASSE
2. O ESTÁGIO NA FRANÇA E NA BÉLGICA
Em 1960 era fácil
conseguir um estágio na França e como a SESA estava interessada em introduzir
no Brasil a fabricação de centrais telefônicas eletromecânicas do tipo de
barras cruzadas do modelo Pentaconta desenvolvido pela CGCT (Compagnie Générale
de Constructions Téléphoniques), empresa francesa subsidiária da ITT, ainda
antes de nos formarmos, o Ramalho e eu optamos pela área de comutação na SESA e
iniciamos também as providências para conseguir um estágio na França.
Como os arranjos para conseguir o estágio, incluindo a
aprovação da CAPES para pagar a passagem de ida e a aprovação do Itamaraty para
nos conceder um passaporte especial, ainda demorariam algum tempo, logo no início
de janeiro de 1961, começamos a trabalhar, fazendo uma espécie de estágio com
duração de dois meses em todas as áreas da SESA. Lembro-me em especial da
semana que passamos na área de equipamentos de onda portadora (equipamentos
multiplex que permitiam transmitir vários canais de voz em um par metálico).
Talvez por ser a área mais dedicada à tecnologia, a biblioteca da SESA ficava
subordinada a essa área que era dirigida por um iteano o Alberto Fabiano. Como
o Fabiano era muito formal todos os engenheiros eram chamados de “Doutor”. Qual
não foi a minha surpresa ao me dirigir à bibliotecária e ser chamado de Dr.
Parola: senti-me como se fosse um médico de avental branco.
A tecnologia da época certamente não tem nada a ver com a
tecnologia usada nas fábricas atuais. Algumas dessas tecnologias desapareceram
rapidamente como a fabricação de aparelhos telefônicos de baquelite com disco
de zamak e a fabricação de válvulas de transmissão de alta potência para
“broadcasting” que eram feitas empregando técnicas de vácuo e materiais
bastante sofisticados para a época, embora fossem feitas artesanalmente.
A SESA havia nos dito que faríamos um curso sobre o sistema
Pentaconta na CGCT. Quando chegamos a Paris em março de 1961 e nos dirigimos à
CGCT, descobrimos que curso sobre Pentaconta havia terminado no final do ano
anterior. O Sr. Camus, Diretor da área de engenharia, informou que o que
poderíamos fazer era participar juntamente com três estagiários das Filipinas,
de uma aula diária com duração de uma ou duas horas. Assim começamos a ter
aulas sobre os circuitos usados (as centrais eletromecânicas do tipo de barras
cruzadas usavam essencialmente seletores de barras cruzadas e relés o que para
nós não trazia nenhuma novidade), os equipamentos (tipos de relés e seletores)
e principalmente sobre o tráfego telefônico. Quando perguntamos sobre a
centrais eletrônicas informaram que quem estava trabalhado nessa área era a BTM
(Bell Telephone Manufacturing) subsidiária da ITT na Bélgica.
As aulas sobre tráfego telefônico eram dadas pelo Sr.
Chastang, um ex-coronel do exército que havia servido na Síria durante a época
da 2.a guerra mundial, tinha sólidos conhecimentos de matemática e estatística
e havia introduzido no sistema Pentaconta alguns critérios, como a
“entre-ajuda” que permitia reduzir o congestionamento interno, característico
de todos os sistemas eletromecânicos cujos seletores apresentavam
acessibilidade restrita.
As aulas se realizavam na biblioteca da CGCT e os filipinos
que estavam mais interessados em conhecer Paris do que entender o Pentaconta
assim que acabava a aula iam embora. Eu e o Ramalho ficávamos estudando ou indo
para a fábrica para aprender a respeito da fabricação, montagem, elaboração dos
programas de testes e controle de qualidade.
Depois de seis meses de estágio incluindo a parte de
manutenção de uma central Pentaconta em operação na rede do PTT francês,
instalada em Douai no norte da França, fomos fazer um outro estágio na BTM em
Antuérpia.
A razão para o estágio na Bélgica foi principalmente a de
manter contato com o pessoal da BTM, pois embora o Pentaconta tivesse sido
desenvolvido pela CGCT na França, o relacionamento comercial da SESA era feito,
por razões históricas, com a BTM que havia fornecido a maior parte das centrais
telefônicas rotativas 7A1 e 7A2 que compunham a rede telefônica da cidade do
Rio de Janeiro. Devido à segunda guerra mundial algumas centrais rotativas para
o Rio de Janeiro haviam sido fornecidas por uma empresa americana.
O estágio na CGCT ocorreu durante a primavera e o verão (março
a setembro) e o estágio na BTM ocorreu no outono (outubro a dezembro) o que fez
uma diferença enorme.
Em Antuérpia só vimos o sol na primeira semana. Saiamos para trabalhar pouco antes das 8:00 horas e estava escuro, voltávamos às 17:00h e já era noite. Não entendíamos a língua, pois em Antuérpia, que está situada na região de Flandres, fala-se holandês. Lembro-me de uma vez, quando estávamos em um bonde, um homem começou a falar alguma coisa e de repente todos estavam gargalhando, certamente era uma piada mas nós não entendíamos nada e era como se fossemos surdos. A temperatura e o vento eram outro problema. Durante todo o outono a temperatura ficava perto de 0ºC. Não nevava pois a temperatura não era suficientemente baixa, mas chovia e ventava quase que permanentemente. O vento parecia fazer curvas pois em qualquer rua em que estivéssemos o vento sempre soprava forte e mesmo que entrássemos em uma rua perpendicular o vento continuava. Além disso os belgas são muito respeitadores da lei. Nunca atravessam a rua quando o sinal está fechado para os pedestres. Lembro-me de um dia que ao sair do cinema, lá pelas dez da noite, tínhamos de atravessar a Frankrijklei, uma avenida larga. O sinal estava fechado para nós, mas não havia nenhum carro na avenida, e se estivéssemos no Brasil atravessaríamos sem nenhuma dúvida, mas tivemos de esperar uns dois minutos para não fazer feio perante os belgas que esperavam pacientemente que o sinal abrisse para os pedestres.
Em Antuérpia só vimos o sol na primeira semana. Saiamos para trabalhar pouco antes das 8:00 horas e estava escuro, voltávamos às 17:00h e já era noite. Não entendíamos a língua, pois em Antuérpia, que está situada na região de Flandres, fala-se holandês. Lembro-me de uma vez, quando estávamos em um bonde, um homem começou a falar alguma coisa e de repente todos estavam gargalhando, certamente era uma piada mas nós não entendíamos nada e era como se fossemos surdos. A temperatura e o vento eram outro problema. Durante todo o outono a temperatura ficava perto de 0ºC. Não nevava pois a temperatura não era suficientemente baixa, mas chovia e ventava quase que permanentemente. O vento parecia fazer curvas pois em qualquer rua em que estivéssemos o vento sempre soprava forte e mesmo que entrássemos em uma rua perpendicular o vento continuava. Além disso os belgas são muito respeitadores da lei. Nunca atravessam a rua quando o sinal está fechado para os pedestres. Lembro-me de um dia que ao sair do cinema, lá pelas dez da noite, tínhamos de atravessar a Frankrijklei, uma avenida larga. O sinal estava fechado para nós, mas não havia nenhum carro na avenida, e se estivéssemos no Brasil atravessaríamos sem nenhuma dúvida, mas tivemos de esperar uns dois minutos para não fazer feio perante os belgas que esperavam pacientemente que o sinal abrisse para os pedestres.
Aliás, o problema da língua é muito sério na Bélgica. Na
região de Flandres fala-se flamengo, um dialeto do holandês, na região da
Valônia fala-se francês e em torno de Bruxelas há um região bilíngue. No
passado a região da Valônia era mais rica devido à extração de carvão. Hoje em
dia a região de Flandres é mais rica. Como em todos os países os políticos belgas não são exceção e exploram as diversidades, no caso da Bélgica caracterizadas pela diversidade de língua e de geração de riqueza, para estimular a
desunião e, embora a Bélgica seja um país de apenas 30.000 km2, é bem possível
que no futuro dê origem a dois ou três países.