Comentário para Amazon sobre os Neurônios da Leitura de
autoria de Stanislas Dehaene
Evidências Científicas a Respeito da Leitura e da
Alfabetização
O livro Os Neurônios da Leitura (como a ciência explica
nossa capacidade de ler) poderia também ter o título Evidências Científicas a Respeito
da Leitura e da Alfabetização. Este livro, quando do seu lançamento, foi
considerado, pelo Washington Post, como o melhor livro científico do ano
Stanislas Dehaene, professor do Collège de France e membro
da Academia Francesa de Ciências, é especialista em neurociência cognitiva, tendo
realizado importantes trabalhos em matemática e linguagem. A partir de 2018 foi nomeado pelo Ministro da
Educação Nacional da França como presidente do Conselho Científico para a
Educação Nacional (CSEN). Tem um site na Internet (em francês) em https://moncerveaualecole.com/
Embora se trate de um
assunto árido, Stanislas Dehaene consegue explicar de forma didática e atraente
como, nos últimos trinta anos, os “progressos das neurociências e da psicologia
cognitiva (explicada logo no 1º capítulo
- COMO LEMOS?) conduziram a evidências a respeito do ato de ler.”
Logo na introdução menciona aquilo que chama de O ENIGMA DO
PRIMATA QUE SABE LER: “a escrita nasceu
há aproximadamente 5.400 anos entre os babilônios e o alfabeto propriamente
dito não tem mais de 3.800 anos.” Nesse pequeno período o nosso genoma não se
alterou e, portanto, “nada, em nossa evolução, nos preparou para receber as
informações da escrita pela via do olhar”.
Ao falar da UNIDADE BIOLÓGICA E A DIVERSIDADE DAS CULTURAS
afirma ainda, que “são raros os pesquisadores em ciências sociais que
consideram pertinentes ao seu domínio de estudo a biologia do cérebro e a
teoria da evolução” e que isso implica a adesão da maioria deles a um modelo
implícito do cérebro que Dehaene denomina de “plasticidade generalizada e
relativismo cultural” e que pretende mostrar “a que ponto os dados recentes da tecnologia
de imagens cerebrais e da neuropsicologia recusam esse modelo simplista das
relações entre o cérebro e a cultura”.
Embora o “cérebro seja capaz de aprendizagem, sem o que não
poderia incorporar as regras própria da escrita latina, japonesa ou árabe, no
entanto, esta aprendizagem é limitada e para aprender novas competências,
reciclamos nossos antigos circuitos cerebrais de primatas – na medida em que
tolerem um mínimo de mudança”.
A forma de Dehaene explicar as evidências é bastante
simples.
Tomando como exemplo o primeiro capítulo: COMO LEMOS? Explica
como funciona a leitura mostrando que começa no olho
1.º exemplo
Ele inicia mostrando que o olho é um captor imperfeito e que
somente a região central da retina, denominada fóvea, que ocupa 1,5º do campo
visual é realmente útil para a leitura e se essa área sofrer uma lesão a
leitura se torna impossível e logo em seguida faz menção a uma obra que mostra
evidências relativas a essa afirmação ( RAYNER, K. & BERTERA, J. H. (1979). Reading withouta fovea. Science,
206(4417), pp. 468-469.)
2.º exemplo
“A estreiteza da fóvea é a razão principal pela qual movemos incessantemente os olhos no curso da leitura. Ao orientar o olhar, nós "escaneamos" o texto a ser lido...... mas não percorremos o texto de forma contínua pois nossos olhos se deslocam em pequenos movimentos discretos, por “sacadas”” e imediatamente faz uma referência a uma obra que mostra evidências a essa afirmação (RAYNER, K. (1998). Eye movements in reading and information processing: 20 years of research. Psychol Buli, 124(3), pp. 372-422.)
No capítulo 2 mostra quais são as regiões do cérebro que contribuem para a leitura e como são organizadas.
No capítulo 3, que tem o mesmo título do livro, é que é, na minha opinião, o capítulo mais técnico do livro, explica como as palavras escritas são representadas a nível neuronal.
O capítulo 4 que tem o título de A Invenção da Leitura mostra, através da história, a evolução da escrita, sempre à busca de uma notação escrita que se a dapte melhor à nossa organização cerebral. Segundo Dehaene, “não foi nosso cérebro que evoluiu para a escrita, mas, sim, a escrita que se adaptou a nosso cérebro”.
O capítulo 5 – Aprender a Ler – “procura
mostrar como a aprendizagem da leitura modifica o cérebro da criança e aprender
a ler consiste em colocar em conexão dois sistemas cerebrais presentes na
criança bem pequena: o sistema visual de reconhecimento das formas e as áreas
da linguagem, e isto ocorre em três fases:”
·
“A
etapa pictórica, breve período quando a criança “fotografa” algumas palavras;
·
A
etapa fonológica, quando ela aprende a decodificar os grafemas em classes de
sons;
·
A etapa
ortográfica, quando ela automatiza o reconhecimento das palavras.”
O capítulo 6 – O cérebro Disléxico – trata das crianças que, a despeito de terem uma inteligência e uma educação normal, apresentam grandes dificuldades na leitura.
O capítulo 7 trata da Leitura e Simetria que em parte tem relação com o capítulo 6
Há ainda o capítulo 8 cujo título é “Em direção a uma cultura dos neurônios”. Dehaene abre esse capítulo fazendo uma afirmação e uma pergunta: “A leitura abre uma janela para as interações entre a cultura e o cérebro. O modelo de reciclagem neuronal pode ser estendido a invenções culturais outras que a leitura?”
Há um outro livro que faz uma referência
direta à obra de Dehaene, aplicada à realidade brasileira. Trata-se do livro A FALÁCIA SOCIOCONSTRUTIVISTA, de autoria da professora Kátia Simone
Benedetti, que mostra a situação do ensino no Brasil e explica por que os alunos brasileiros
deixaram de aprender a ler e escrever, tomando essencialmente por base as obras
de Stanislas Dehaene e do psicólogo brasileiro Fernando César Capovilla, e
mostrando as “principais ideias e
pressupostos pedagógicos que fundamentaram as diretrizes educacionais no país a
partir da década de 80, no que se refere à língua portuguesa, elucidando as
falácias dos socioconstrutivistas e seus
efeitos nefastos sobre a qualidade da nossa educação, principalmente porque
tais pressupostos têm sido adotados pelo MEC e, por conseguinte pela maioria
maciça das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, há três décadas e, continuarão
a ser adotados com a “nova” BNCC (Base Nacional Comum Curricular).”