quinta-feira, 17 de setembro de 2020

"Por que o governo deveria dar prioridade à primeira infância no Renda Brasil”

Com este título  Fernanda Trisotto em 28/08/2020 publicou um artigo na Gazeta do Povo, que pode ser encontrado no endereço abaixo:

https://www.gazetadopovo.com.br/economia/primeira-infancia-prioridade-renda-brasil/?ref=veja-tambem         Copyright © 2020, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

Na parte final do artigo é mencionado: 

"Criado em 2017, Criança Feliz é elogiado"

"O Brasil já tem uma ação voltada à primeira infância: o Criança Feliz é considerado o maior programa de acompanhamento familiar para desenvolvimento infantil do mundo. Seu foco está justamente nas crianças de até 6 anos, que recebem visitas para acompanhamento. Aos pais são oferecidos instrumentos para que estimulem o desenvolvimento cognitivo, emocional e psicossocial dos filhos."

"A ação começou em 2017, a um custo anual de R$ 207 milhões. Em 2019, o recurso para o programa era de R$ 377 milhões, e já havia possibilitado o atendimento a mais de 800 mil crianças. A meta do Ministério da Cidadania era de chegar a 2022 com 3 milhões de beneficiários. Até março de 2020, 2.927 cidades faziam parte do programa e outras 1,2 mil eram consideradas aptas. A metodologia da ação, que consistia em visitas, precisou ser adaptada por causada pandemia da Covid-19."

"Naercio Menezes Filho, do Insper, avalia que o Criança Feliz é uma excelente iniciativa, alinhada com os programas mais modernos da área, porque combina visitas domiciliares e capacitação dos pais para interagirem com as crianças. Mas pode melhorar, combinando outras ações em um só pacote, como ações de transferência de renda e de saúde, a exemplo do que já é feito no programa Saúde da Família. "São várias políticas separadas, com públicos diferentes. Precisamos fazer algo coordenado", diz o especialista."

Meus comentários:

Na realidade o governo brasileiro vem dando prioridade à primeira infância, como informei em dezembro de 2019 em PROGRAMA CRIANÇA FELIZ RECEBEU O WISE AWARD CONFERIDO PELA “QATAR FOUNDATION (clique aqui) mas também vem dando prioridade à primeira infância através da PNA (POLÍTICA NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO) criada em 2019 através da Secretaria de Alfabetização (SEALF) dirigida por Carlos Nadalim.

O Programa CONTA PRAMIM da PNA http://alfabetizacao.mec.gov.br/contapramim já permite que as famílias participem dessa preparação para alfabetização e se for feito em conjunto com o programa Criança Feliz, permitirá que as famílias assistidas pelo Bolsa Família com crianças até 3 anos de idade (em alguns casos até 6 anos), também sejam preparadas para isso.

A partir de 2022 com a inclusão da PNA no PNLD (Programa Nacional do Livro e do Material Didático) serão distribuídas obras didáticas, literárias para estudantes, professores e gestores da educação infantil e obras pedagógicas de preparação para a alfabetização.

Não é à-toa que o governo francês, em 2019, tornou OBRIGATÓRIA A MATRICULA EM ESCOLAS MATERNAIS A PARTIR DOS TRÊS ANOS DE IDADE e criou o CSEN (Concelho Científico da Educação Nacional) constituído por vinte cientistas, sob a presidência de Stanislas Dehaene.

Um dos motivos para a criação do CSEN é permitir que a Escola se beneficie das contribuições da pesquisa e da inovação porque o PROGRESSO RECENTE NO CAMPO DAS CIÊNCIAS COGNITIVAS CONTRIBUIU PARA UM MELHOR CONHECIMENTO DO FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO DA CRIANÇA E DOS MECANISMOS DE APRENDIZAGEM, ESPECIALMENTE NA LEITURA.

O Wall Street Journal ao comentar o livro “Os Neurônios da Leitura” de autoria de Stanislas Dehaene diz que o livro revela “COMO DÉCADAS DE ESTUDOS E DE EXPERIÊNCIA COM TECNOLOGIA DE IMAGENS CEREBRAIS AJUDARAM A DESVENDAR O MISTÉRIO DA LEITURA E SEUS PRINCIPAIS COMPONENTES”.

Dehaene, por sua vez, na conclusão de seu livro afirma que não pretende que “as neurociências acabem com as dificuldades pedagógicas”, mas “OS PAIS E EDUCADORES PRECISAM TER UMA IDEIA CLARA DAS MUDANÇAS QUE A LEITURA OPERA NO CÉREBRO DA CRIANÇA” e que isso não significa que “as neurociências substituam a psicologia experimental e a pedagogia”, permanecendo “os professores como os únicos mestres a bordo que deverão despertar as crianças para a leitura através das mais diferentes formas, enfrentando dificuldades que requerem um domínio pedagógico que respeita profundamente”.

Afirma também que:

“Ninguém deveria igualmente ignorar que certas questões estão firmemente resolvidas. Assim, SABE-SE HOJE QUE OS MÉTODOS GLOBAIS OU IDEOVISUAÍS NÃO FUNCIONAM: todas as crianças, independente de sua origem social, se beneficiam de uma aprendizagem explícita e o mais precoce possível das correspondências entre grafemas e fonemas de sua língua. É um fato estabelecido, sustentado por numerosas experiências pedagógicas, coerente com nossa compreensão sobre a organização do cérebro do leitor. VOLTAR ATRÁS SOBRE ESSE PONTO, SOB O PRETEXTO DE EXPERIMENTAR OU DE EXERCER A LIBERDADE DE ENSINO SERIA CRIMINOSO.”

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

BRASIL É UM PAÍS POBRE E CRESCE POUCO

Em meados de 2019 fiz um estudo a respeito do crescimento econômico do Brasil comparado ao crescimento de alguns outros países. Esse estudo acabou ficando um pouco complexo e não foi publicado.

Agora resolvi publicar um resumo desses dados, mantendo unicamente a Introdução e alguns gráficos que permitem fazer essa comparação de uma forma mais simples sem entrar em grandes detalhes.

Os dados apresentados, tem como fonte o World Economic Outlook Database, April 2019 do FMI, disponível em https://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2019/01/weodata/index.aspx

Aliás essa base de dados do FMI é tão fácil de ser manipulada que qualquer pessoa normal consegue montar uma planilha com os dados específicos de seu interesse.

  1. Introdução

Que o Brasil é um país pobre e que cresce pouco pode ser facilmente demonstrado usando indicadores que permitem avaliar o crescimento da economia de um país e consequentemente a evolução da produtividade. Esses indicadores são o PIB (Produto Interno Bruto) e o PIB per capita.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, estado ou cidade, geralmente em um ano. Todos os países calculam o seu PIB nas suas respectivas moedas.

Quando se procura analisar o comportamento do PIB de um país ao longo do tempo, é preciso diferenciar o PIB NOMINAL do PIB REAL.

O PIB Nominal refere-se ao valor do PIB calculado a preços correntes, ou seja, no ano em que o produto foi produzido e comercializado. Já o PIB Real é calculado a preços constantes, onde é escolhido um ano-base, eliminando assim o efeito da inflação.

Outro ponto que deve ser levado em consideração é o PIB per capita. Como o nome indica, o PIB per capita é obtido dividindo o valor do PIB pela quantidade de habitantes. Deste modo se, em um determinado período, o PIB dobrasse e a população também dobrasse o PIB per capita permaneceria o mesmo.

Os governantes gostam de apresentar o crescimento do PIB porque mostra o crescimento da economia do país, mas, para as pessoas, o que tem importância é o PIB per capita, pois embora o crescimento não seja distribuído de forma igualitária, mesmo assim é mais significativo para os indivíduos.

Uma das maneiras de comparar o crescimento do PIB de dois ou mais países, em um determinado período de tempo, é calcular, para cada pais, o percentual de crescimento, usando o valor do PIB (a preços constantes na moeda nacional, onde é escolhido um ano-base, eliminando assim o efeito da inflação).

No entanto para fazer uma comparação em valores absolutos do PIB per capita de dois ou mais países é necessário converter o valor do PIB, na moeda nacional de cada país, para uma moeda comum. À primeira vista poderia pensar-se no dólar que é uma moeda de uso corrente. No entanto, tanto as flutuações cambiais (por exemplo, no Brasil em 2002 o dólar variou de R$ 2,60 e chegou a atingir R$ 4,00) como as diferenças de prosperidade material impedem de usar o dólar, ou qualquer outra moeda real, e para efeito comparativo é definida uma moeda, o dólar internacional com Paridade de Poder de Compra (Power Purchasing Parity – PPP international dollar).

Segundo a Wikipedia, “a paridade do poder de compra (a seguir será usada a sigla PPP e não PPC) é um método alternativo à taxa de câmbio para se calcular o poder de compra em  dois países”..... A PPP leva em conta tanto as diferenças de rendimentos como também as diferenças no custo de vida.”

 2. Evolução do PIB, da população e do PIB per capita do Brasil entre 1980 e 2018

 

 Figura 1

Ou seja

 

1980

2018

Crescimento

% de crescimento

média geométrica de crescimento anual (%)

PIB (Bilhões de R$ constantes base 2018)

3.077

6.826

R$ 3.749 bilhões

122%

2,12%

População (Milhões de habitantes)

119

208

90 bilhões de habitantes

76%

1,49%

 PIB per capita (R$ constantes base 2018)

25.950

32.766

R$ 6.817,00

26%

0,62%

 

3. Comparação do crescimento, ano a ano, do PIB Real do Brasil com o dos países emergentes e em desenvolvimento

Se o Brasil for comparado com os países emergentes de 1980 a 1995

Figura 2 

Se o Brasil for comparado com os países emergentes de 1995 a 2018


 Figura 3

 No Brasil é costume denominar a década de 80 como a década perdida, mas pelos 2 gráficos acima dá para entender que foram quase 4 décadas perdidas quando comparamos o PIB do Brasil com o PIB dos países emergentes (154 países).

4. Comparação do crescimento, no período de 1980 a 2018, do PIB Real do Brasil com o de um grupo de países selecionados

Entre 138 países, o Brasil encontra-se em 107º lugar no que diz respeito ao crescimento do PIB Real entre 1980 e 2018

Figura 4

5. Comparação do crescimento, no período de 1980 a 2018, do PIB per capita do Brasil com o de um grupo de países selecionados

Na introdução foi mencionado que, sob o ponto de vista dos cidadãos, o que é importante não é somente o crescimento do PIB, mas o crescimento do PIB per capita.

Como o nome indica, o PIB per capita é obtido dividindo o valor do PIB pela quantidade de habitantes. Deste modo se, em um determinado período, o PIB dobrasse e a população também dobrasse o PIB per capita permaneceria o mesmo.

Como o Brasil só a partir de 2006 teve uma redução substancial do crescimento populacional, a seguir são mostrados os gráficos para mostrar o crescimento do PIB per capita em relação aos mesmos países acima comparados.

Entre 138 países o Brasil encontra-se em 100º lugar no que diz respeito ao crescimento do PIB per capita entre 1980 e 2018.

 Figura 5

Por exemplo, o crescimento percentual do PIB da França e da Alemanha, como mostra a Figura 4, no período de 1980 a 2018, foi respectivamente de 97% e 92 %, portanto inferiores ao crescimento do PIB do Brasil (122%).

No entanto, no que diz respeito ao PIB per capita, a Alemanha e a França tiveram crescimento do PIB per capita de 63% e 78%, respectivamente, muito superiores ao crescimento do PIB per capita do Brasil, que foi de apenas 26%.

Isto significa que, no Brasil, o PIB cresceu principalmente porque houve aumento da população economicamente ativa e não devido ao aumento de produtividade. O mesmo aconteceu com a maioria dos países da América do Sul.

No entanto tanto os países avançados, como França e Alemanha, que tiveram pequeno crescimento populacional, como os países em desenvolvimento, como Índia, Indonésia, etc, que tiveram grande crescimento populacional, apresentaram grande crescmento do PIB Real e também do PIB per capita, o que demonstra um grande aumento de produtividade.

Isso pode ser visto no gráfico e na tabela abaixo, 

Figura 6 

Crescimento do PIB e do PIB per capita de 1980 a 2018 em países selecionados

 

 

País

PIB

PIB per capita

China

3054%

2131%

Índia

950%

440%

Coreia

880%

623%

Indonésia

624%

304%

Tailândia

576%

363%

Chile

380%

189%

Colômbia

263%

107%

Paraguai

240%

52%

Peru

221%

73%

Bolívia

216%

45%

Equador

192%

38%

Estados Unidos

175%

91%

Uruguai

150%

110%

México

143%

35%

Brasil

122%

26%

Argentina

122%

24%

França

97%

63%

Alemanha

92%

78%

 6. Comparação do Brasil com os países da América Latina

A comparação somente com países da América Latina mostra que o Brasil só foi melhor do que a Argentina e a Guiana com respeito ao crescimento do PIB. O crescimento da América Latina, como um todo, foi muito pequeno quando comparado com outras áreas do mundo, devido ao péssimo desempenho das economias do Brasil, México e Argentina e da Venezuela, que têm um peso importante.

Figura 7 

Com relação ao PIB per Capita a situação do Brasil com relação aos outros países da América Latina mostra-se ainda pior, como mostra o gráfico abaixo.


Figura 8 


7. Conclusão

A conclusão que é possível tirar é que, independentemente do partido ou da ideologia, o crescimento brasileiro, de 1980 a 2018, foi pífio quando comparado com outros países, mesmo quando comparado a outros países da América Latina.

O percentual de crescimento do PIB per capita é uma função direta do aumento de produtividade que por sua vez depende essencialmente da Educação.  

A Educação é certamente o maior problema brasileiro, e apesar de decorridos 35 anos da redemocratização, ainda estamos entre os países mais atrasados. Praticamente duas gerações perdidas e como a mudança é lenta, se começarmos a correr, talvez leve quinze ou vinte anos para melhorar um pouco.