RAZÕES PELAS QUAIS
A COP 30 SERÁ UM FRACASSO
1.
PRELIMINARES
Na época da disputa eleitoral de 2024 nos Estados Unidos
li o artigo Why Democrats Will Become Energy Realists (https://www.liberalpatriot.com/p/why-democrats-will-become-energy
) e o que mais chamou a minha atenção foi a referência aos argumentos de Vaclav Smil
expressos nesse artigo e que me levaram ao texto Halfway Between Kyoto and 2050: Zero Carbon
Is a Highly Unlikely Outcome disponível em https://www.fraserinstitute.org/sites/default/files/halfway-between-kyoto-and-2050.pdf
e cujo Resumo Executivo e Considerações
Finais são apresentadas abaixo abaixo:
Resumo Executivo
·
Este ensaio avalia a redução das emissões de
carbono no passado e a viabilidade de eliminar os combustíveis fósseis para
atingir emissões líquidas zero de carbono até 2050.
·
Apesar dos acordos internacionais, dos gastos
governamentais e das regulamentações, e dos avanços tecnológicos, o consumo
global de combustíveis fósseis aumentou 55% entre 1997 e 2023. E a participação
dos combustíveis fósseis no consumo global de energia diminuiu apenas de quase
86% em 1997 para aproximadamente 82% em 2022.
·
A primeira transição energética global, de
combustíveis de biomassa tradicionais, como madeira e carvão vegetal, para
combustíveis fósseis, começou há mais de dois séculos e se desenvolveu
gradualmente. Essa transição permanece incompleta, já que bilhões de pessoas
ainda dependem de energias de biomassa tradicionais para cozinhar e aquecer.
·
A escala da transição energética atual exige
aproximadamente 700 exajoules (1018 joules) de novas energias não
baseadas em carbono até 2050, o que requer cerca de 38.000 projetos do tamanho
do Site C da Colúmbia Britânica ou 39.000 equivalentes de Muskrat Falls.
·
A conversão de processos intensivos em energia
(por exemplo, fundição de ferro, cimento e plásticos) para alternativas não
fósseis exige soluções ainda não disponíveis para uso em larga escala.
·
A transição energética impõe demandas sem
precedentes por minerais, incluindo cobre e lítio, que exigem um tempo
considerável para localizar e desenvolver minas.
· PARA ATINGIR EMISSÕES LÍQUIDAS
ZERO DE CARBONO, OS PAÍSES RICOS INCORRERÃO EM CUSTOS DE PELO MENOS 20% DO SEU
PIB ANUAL.
·
Embora a cooperação global seja essencial para
alcançar a descarbonização até 2050, grandes emissores como os Estados Unidos,
a China e a Rússia têm interesses conflitantes.
·
Para eliminar as emissões de carbono até 2050,
os governos enfrentam desafios técnicos, econômicos e políticos sem
precedentes, tornando impossível uma transição rápida e barata.
Considerações Finais
·
Para concluir, apresentarei algumas perspectivas
históricas e de ordem de grandeza simples. Minha reconstrução do fornecimento
global de energia (incluindo as energias tradicionais de biomassa) mostra que
os combustíveis fósseis, e posteriormente também a eletricidade hidrelétrica e
nuclear, aumentaram de
apenas 2% em 1800 para 95% em 2020 (Smil, 2016a). Após mais de dois
séculos, a primeira
transição energética ainda não está completa.
·
E a segunda? Mesmo que presumíssemos que, devido às maiores
eficiências de conversão de uma economia amplamente eletrificada, precisaríamos
substituir apenas 300 EJ, em
vez de 500 EJ do fornecimento atual de combustíveis fósseis até 2050, então 85% da
tarefa ainda está pela frente. Em 2022, as energias
renováveis forneceram
apenas cerca de 45 EJ, o que representa um ganho anual de 1,7 EJ nos últimos 27 anos. Mas para eliminar o carbono fóssil até 2050, as novas adições de energia
teriam que ter uma média de cerca de 9,4 EJ por ano durante os próximos 27
anos, implicando um ritmo de transição anual quase seis vezes mais rápido do
que nos últimos 27 anos. Podemos, instantaneamente, sextuplicar (ou “apenas”
quintuplicar ou quadruplicar) nossas conquistas anuais e manter esses novos
níveis até 2050?
·
A transição em curso é apenas o segundo evento
fundamentalmente transformador desse tipo na história, e esses dois eventos
compartilham um objetivo semelhante: uma mudança completa nos fundamentos energéticos
de toda a civilização. Em comparação com as conquistas e opções técnicas de
hoje, a primeira grande transição começou a se desenrolar com capacidades
técnicas rudimentares, mas, eventualmente, certamente superou as expectativas
iniciais; criou novas sociedades prósperas e de alta energia.
·
Embora estejamos tecnicamente muito mais bem
equipados do que estávamos há 150 ou 200 anos, a tarefa apresentada pela
segunda transição energética não parece ser menos desafiadora. Pouco antes do
final de 2023, a Agência Internacional de Energia publicou sua ESTIMATIVA DO INVESTIMENTO
GLOBAL EM “ENERGIA LIMPA” — EM OUTRAS PALAVRAS, ESSENCIALMENTE O CUSTO ANUAL
RECENTE DA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA. EM 2023, ESSE VALOR FOI PRÓXIMO DE US$ 2,2
TRILHÕES (IEA, 2023G). MESMO QUE SUBSTITUÍSSEMOS APENAS 60% DO CONSUMO ATUAL DE
COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS, PRECISARÍAMOS INVESTIR CERCA DE SEIS VEZES MAIS, OU CERCA
DE US$ 13 TRILHÕES POR ANO, PARA ATINGIR EMISSÕES ZERO DE CARBONO ATÉ
2050. Considerando US$ 15 a 17 trilhões por ano (para contabilizar os custos
adicionais esperados), esse valor parece bastante razoável e nos leva, mais uma
vez, a UM TOTAL DE US$ 400
A 460 TRILHÕES ATÉ O ANO DE 2050, uma boa confirmação de um valor
previamente calculado. Isto não é uma previsão, apenas uma estimativa plausível
destinada a indicar o custo geralmente subestimado deste esforço global.
·
DUAS ALTERNATIVAS: Nenhuma lei natural nos impede de FAZER OS ENORMES INVESTIMENTOS
NECESSÁRIOS PARA SUSTENTAR ESSAS MUDANÇAS ANUAIS MASSIVAS: poderíamos
recorrer a uma mobilização existencial sem precedentes, de décadas e em toda a civilização,
de esforços construtivos e transformadores
·
OU, inversamente, poderíamos reduzir deliberadamente nosso consumo de
energia, diminuindo nosso padrão de vida e mantendo-o baixo para facilitar a
substituição de todo o carbono fóssil.
·
NA AUSÊNCIA DESSAS DUAS ESCOLHAS RADICAIS, não devemos ignorar a
experiência da grande transição energética do passado (das energias
tradicionais de biomassa aos combustíveis fósseis) e não devemos subestimar a
concatenação de desafios apresentados pelas exigências práticas de engenharia,
materiais, organizacionais, sociais, políticas e ambientais da transição em
curso para um mundo livre de carbono fóssil, que foram parcialmente analisadas
neste ensaio. Ao avaliarmos esses desafios de forma realista, DEVEMOS CONCLUIR QUE UM MUNDO
LIVRE DE CARBONO FÓSSIL ATÉ 2050 É ALTAMENTE IMPROVÁVEL.
Levantando alguns dados a respeito de Vaclav Smil vi que
Bill Gates disse que lerá
qualquer coisa que Vaclav Smil escreva e achei que valeria a pena ler algum livro de
autoria do Smil.
Dentre as dezenas de livros de Vaclav Smil, comprei um intitulado
COMO O MUNDO FUNCIONA, que ainda estou lendo e achando muito
interessante, e que mostra como somos ignorantes a respeito de quase tudo. Por
exemplo, a respeito dos materiais Smil afirma:
“..........claro que o consumo
anual de um material não é o melhor indicador de quanto ele é indispensável,
mas, nesse caso, o veredicto é claro: por mais úteis e transformadores que tenham sido os
avanços eletrônicos depois de 1950, eles não constituem fundamentos materiais
indispensáveis para a civilização moderna. E, embora não seja possível
colocar nossas necessidades materiais em uma ordem indiscutível com base em sua
importância alegada, posso oferecer uma classificação plausível levando em
conta a necessidade, a onipresença e o tamanho da demanda. Quatro materiais estão no topo
dessa escala e formam o que chamo de quatro pilares da civilização moderna:
concreto, aço, plásticos e amônia”
e eu, na minha ignorância, nunca poderia imaginar que amônia fosse tão importante.
2.
RAZÕES
PELAS QUAIS A COP 30 SERÁ UM FRACASSO
A PRIMEIRA RAZÃO PARA QUE A COP 30 SEJA UM FRACASSO É QUE SERÁ INEXEQUÍVEL OS PARTICIPANTES CONCORDAREM EM DISPENDER US$ 15 TRILHÕES, ANUALMENTE, ATÉ 2050.
A SEGUNDA RAZÃO É QUE O PRÓPRIO BILL GATES, UM DOS GRANDES INCENTIVADORES DA CONVENÇÃO-QUADRO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MUDANÇA DO CLIMA (UNFCCC), ESTÁ MINIMIZANDO SUA ATUAÇÃO, COMO PODE SER VISTO EM SUA POSTAGEM HTTPS://WWW.GATESNOTES.COM/HOME/HOME-PAGE-TOPIC/READER/THREE-TOUGH-TRUTHS-ABOUT-CLIMATE
Nota: para traduzir para
português basta clicar no botão direito do mouse e selecionar traduzir para
português
Minhas anotações em verde
Uma nova maneira de olhar para o
problema
Três duras verdades sobre o clima
O
que eu quero que todos na COP30 saibam.
Por Bill Gates publicado em
terça-feira, 28 de outubro de 2025
- "A mudança climática é séria, mas fizemos
um grande progresso. Precisamos continuar apoiando os avanços que ajudarão
o mundo a atingir emissões zero."
- "Mas não podemos cortar o financiamento
para saúde e desenvolvimento - programas que ajudam as pessoas a se
manterem resilientes diante das mudanças climáticas - para fazê-lo."
- "É hora de colocar o bem-estar humano no
centro de nossas estratégias climáticas, o que inclui reduzir o Green
Premium a zero e melhorar a agricultura e a saúde nos países pobres."
"Felizmente para todos nós, essa visão está errada. Embora a mudança climática tenha sérias consequências – particularmente para as pessoas nos países mais pobres – ela não levará ao fim da humanidade. As pessoas serão capazes de viver e prosperar na maioria dos lugares da Terra no futuro próximo. As projeções de emissões caíram e, com as políticas e investimentos certos, a inovação nos permitirá reduzir muito mais as emissões."
"Infelizmente, a perspectiva apocalíptica está
fazendo com que grande parte da comunidade climática se concentre demais nas
metas de emissões de curto prazo e está desviando recursos das coisas mais
eficazes que deveríamos fazer para melhorar a vida em um mundo em aquecimento."
"Esta é uma chance de se concentrar novamente na métrica que deve contar ainda mais do que as emissões e as mudanças de temperatura: melhorar vidas. Nosso principal objetivo deve ser evitar o sofrimento, especialmente para aqueles que vivem nos países mais pobres do mundo em condições mais difíceis."
"Embora a mudança climática prejudique as pessoas pobres mais do que qualquer outra pessoa, para a grande maioria delas não será a única ou mesmo a maior ameaça às suas vidas e bem-estar. Os maiores problemas são a pobreza e a doença, como sempre foram. Entender isso nos permitirá concentrar nossos recursos limitados em intervenções que terão o maior impacto para as pessoas mais vulneráveis."
"Eu sei que alguns defensores do clima vão discordar
de mim, me chamar de hipócrita por causa da minha própria pegada de carbono
(que eu compenso totalmente com créditos de carbono legítimos) ou ver isso como
uma maneira sorrateira de argumentar que não devemos levar a sério as mudanças
climáticas."
"Para
ser claro: a mudança climática é um problema muito importante. Precisa ser
resolvido, junto com outros problemas como malária e desnutrição. Cada décimo
de grau de aquecimento que evitamos é extremamente benéfico porque um clima
estável torna mais fácil melhorar a vida das pessoas."
E no resto do texto Bill Gates continua a falar a
respeito das 3 verdades:
NA MINHA OPINIÃO, PARECE QUE
BILL GATES APRENDEU ALGUMA COISA COM VACLAV SMIL.
AFINAL DE CONTAS, HÁ TANTAS
COISAS IMPREVISTAS EM RELAÇÃO AO FUTURO, QUE EMBORA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
DEVAM SER OBJETO DE ATENÇÃO, CERTAMENTE NÃO DEVEM SER OBJETO DE UMA VISÃO
APOCALÍPTICA.
UM EXEMPLO DESSES ACONTECIMENTOS
IMPREVISTOS ESTÁ RELATADO NO ARTIGO POR QUE O ANO 536 FOI UM DOS PIORES ANOS
PARA SE ESTAR NA TERRA ( HTTPS://WWW.BBC.COM/PORTUGUESE/GERAL-46302790 )